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OPINIÃO: A seleção distante do povo

O desinteresse dos brasileiros pela Copa do Mundo tem sido objeto de variadas discussões, em variados níveis e mídias. Buscam-se explicações fundamentadas em análises sociológicas, políticas e econômicas.

Mas, parece-me, ao lado de tais justificativas, e talvez de forma concorrente, há uma de natureza puramente esportiva. Explico- -me. Se pegarmos o time brasileiro que está na Rússia, veremos que dos vinte e três jogadores que o integram apenas três jogam em times brasileiros (Cássio e Fagner, no Corinthians, e Pedro Geromel, no Grêmio) e nenhum deles foi convocado na condição explícita de titular. Os demais jogam em times europeus e asiáticos.

E vários deles saíram do Brasil antes mesmo de se tornarem ídolos em seus clubes, vindo a ser conhecidos pela torcida brasileira somente após ascenderem ao estrelato nas agremiações estrangeiras.

Esse é um fenômeno que também ocorre com atletas de outros países periféricos na estrutura econômica mundial. Na Argentina, por exemplo, após as duas primeiras rodadas do mundial e dos maus resultados dos hermanos, discute-se se o mega ídolo Messi, à vista de suas insatisfatórias atuações na seleção, é argentino ou espanhol. E não duvido que boa parte de seus conterrâneos sequer hesite na hora de defini-lo como "espanhol".

Se observarmos em retrospectiva as copas passadas, e a participação brasileira nelas, veremos que a despeito de eventuais situações políticas e/ou econômicas desfavoráveis à maioria da população, na maior parte das vezes, houve identificação popular com a seleção e vibração diante dos resultados positivos ou forte frustração em face de resultados negativos.

E tão mais agudos foram esses sentimentos quanto maior a proximidade dos ídolos com a população. Hoje, no mundo globalizado e midiatizado do futebol profissional, não só essa identificação espontânea tende a desaparecer como se acentua o sentimento de que a exacerbação do profissionalismo afasta irremediavelmente o atleta do torcedor. E isso, é óbvio, se reflete na relação afetiva da torcida com sua seleção e os jogadores que a integram. De qualquer sorte, parece ser indesmentível a indigência do afeto dedicado pelos brasileiros à sua seleção e à Copa da Rússia. E "ídolos" como Neymar, que poderiam galvanizar sentimentos positivos do povo brasileiro em relação aos atletas selecionados e à própria seleção, parecem mais interessados na preservação de seus próprios privilégios e de suas já abarrotadas contas bancárias do que exercitar qualquer papel de liderança positiva ou no desenvolvimento de algum sentimento de ufanismo ou de amor à camiseta canarinho, que já foi motivo de orgulho e de alegria para o povo brasileiro, carente de ídolos esportivos e de administradores e de líderes políticos sérios e consequentes.

Hoje, somos uma nação envergonhada de nossa própria realidade político-administrativa, órfã das afeições mais comezinhas, inclusive, dos afetos futebolísticos.

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